Tédio, o Urso 2010 Tédio, o Urso.: Jabulani.

=D

WELCOME TO MY BLOG ^^

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Jabulani.

Será que amo realmente os que me amam?
Cristina chegou com minha filha Cendy que trazia no colo um cachorrinho todo desgrenhado, magro e feio. Nem precisei olhar muito para aquele animalzinho estranho e na hora relutei em recebê-lo em casa; logo reclamei com Cristina:
- Quem trouxe esse cachorrinho leproso para cá?
- Nossa que palavra feia, além do que não é um cachorro é uma cadela e Cendy deu até um nome para ela.
E Cendy ainda com a chupeta na boca respondeu:
- Jabulani a bola da copa.
Mas não gostei nada
- Ah sim! Jabulani... Muito engraçado, agora, já fora com esse cachorro.
- Amor, ela é doentinha e não tem onde ficar; uma mulher doida jogou a coitada no lixo para morrer, nos deixa ficar com ela até nós encontrarmos alguém que a queira.
Passei a noite inteira reclamando, mas como todo Adão apaixonado; terminei por comer aquela maçã.
Durante a noite enquanto trabalhava lá vinha a tal cadela e ficava pulando tentando se apoiar onde eu estava sentado, tentei assusta-la batendo os pés, no entanto ela persistiu e resolvi pô-la em meu colo.
Era um cãozinho cor de caramelo, uma vira lata de olhos azuis e pêlo revolto, os olhos pareciam grudados e ela respirava com certa dificuldade. Segurei com sutileza sua barriguinha aquecida e a deitei próxima a minha cadeira e ela adormeceu.
Passaram dois anos e a tal Jabulani já estava maior, mas continuava bagunçada como sempre e eu toda vez que encontrava uma oportunidade implicava com a coitada, todavia o que me fazia calar era o olhar feliz e contente da minha filha. Tudo parecia perfeito.
Domingo era dia dos pais então resolvi passar o feriado no sitio com meu pai, que já estava em idade avançada, no entanto Cendy insistia que a Jabulani fosse junto... Como sempre relutei, mas não podia ser egoísta a ponto de me divertir enquanto veria minha filha triste. Forrei todo banco traseiro com jornal e Jabulani que agora estava crescida logo subiu e minha filha mesmo toda arrumada, passou a percurso inteiro brincando com a cadela.
No sitio do meu pai ficamos apenas eu ele e Cendy, já que Cristina também fora visitar o pai. Estávamos sentados próximos da cozinha quando de relance vi um animal muito feroz, mais precisamente um Pitbull, correr em direção a Cendy que brincava na escada que ficava na entrada da casa; eu e papai corremos em seu socorro, mas o animal corria com uma velocidade assustadora e quando já ameaçava pular com as mandíbulas diretamente na face de Cendy, vi surgir como mágica Jabulani, ela entrou no meio daquele ataque colidindo contra o animal que em força e tamanho chegava a ser o triplo da cadela. E mesmo que a cada mordida do pitibull a deixasse ainda mais ferida, Jabulani lutava ferozmente. Papai pegou um pedaço de madeira e tentou atingir o pitbull, eu agarrei Cendy e tentei tira-la dali, mas ela estava desesperada e preocupada com a valente cadela...
Papai atingiu varias vezes o animal e este partiu em sua direção, mas a cadela mesmo estando completamente embebida em sangue, partiu em sua defesa, os dois se engalfinharam novamente, porem de uma hora para outra o pitbull parou de atacar, como que em respeito a coragem da pequena cadela, ele exausto afastou-se e eu consegui por fim alcançar Jabulani, papai foi buscar panos e água; eu permaneci ali abraçado ao animal maculado e ela, por sua vez olhou-me com aqueles mesmo olhos que vi no primeiro em que a vi lá em casa toda desgrenhada; ela deu um ultimo suspiro e faleceu. Cendy chorava desconsolada e enquanto eu também chorava abraçado à cachorra o dono do pitbull apareceu pedindo desculpas e tentou consolar-me dizendo que o animal seria sacrificado, porem eu pedi que ele não o fizesse, ele por sua vez me respondeu:
- Qual é cara? É só um cachorro.
E com os olhos tristes o respondi:
- Tens razão... É só um cachorro... Assim como eu e você somos apenas pessoas; o sentido e o valor das coisas dependem do amor que creditamos a nós e aos que estão a nossa volta, ou do quanto estamos dispostos a nos sacrificar por eles. Aquela cadelinha ali morta era mais que um cachorro; agora entendo o que muitos dizem sobre o que é ser especial. Ninguém jamais irá entender o que sinto e nem eu saberei explicar. Amor é universal, porem cada um tem seu jeito especial de amar. Só Deus pode compreender o amor de cada um em especial.
O rapaz ainda tentou retrucar – Ta! não o farei, mas corta essa! – Mas no âmago de seu julgo algo nas palavras daquele rapaz pareciam mexer em seu espírito.
Após todo o ocorrido enterramos Jabulani no sitio do meu pai e no caminho de volta para casa Cendy seguiu todo percurso abraçada ao urso e eu aos meus pensamentos...
Como pode um homem formado e bem vivido nunca ter tido a humildade de amar tanto quanto aquela simples, frágil e especial cachorrinha? Eu muitas vezes não fui grato, mas aquela simples cadelinha foi capaz de dar a própria vida em gratidão ao amor que minha filha dedicou a ela. Nem tudo tem explicação, por isso hoje aprendi... Ame tudo e todos que estão a sua volta mesmo que estes não tenham mérito, assim como eu não tinha por tratá-la como tratei, simplesmente ame, não espere perder o que ama para depois perceber seu real valor...

Homenagem a Jabulani, uma cachorrinha muito especial.

3 comentários: